A loja de tecidos que eu fiz a minha primeira entrevista aqui no Canadá fechou, e eu fiquei muito triste. Um amigo falou que eu deveria ter ficado feliz e que era karma por eles não terem me contratado. 😂 Mas eu fiquei muito triste porque eu não vou poder realizar um sonho. Eu queria ter voltado lá e comprovado que eu NÃO sou inesquecível!
Te explico o porquê. Além de ser minha primeira entrevista aqui no Canadá, também foi minha primeira entrevista em inglês, e foi um DESASTRE. Eu não tinha confiança no inglês, eu não estudei os termos técnicos, e eu estava aplicando para uma vaga que eu nem queria, que era de instrutora de modelagem e costura.
Obviamente, eu não fui contratada, e tive muita vergonha de voltar lá para comprar tecido e participar dos workshops de costura que a loja oferecia. Perdi a oportunidade de conhecer a comunidade do artesanato e da costura da cidade que eu morava, melhorar ainda mais meu conhecimento de vocabulário de moda em inglês e de fazer networking.
Tudo por culpa dela, a vergonha de errar, vergonha de falar que eu estava aprendendo a língua, e parar de me desculpar por não fazer, mas sim se mostrar disposta e interessada em aprender.
Eu queria ter voltado lá na loja e comprovado para mim que as donas não lembram da minha cara, e que essa única experiência mal sucedida não iria manchar a minha imagem no mercado de moda canadense inteiro. Sim, parece loucura, mas por alguns minutos de delírio eu achei que essa única experiência de menos de uma hora iria ter um impacto negativo na minha carreira internacional. 🥵
Hoje, depois de 6 anos trabalhando com moda aqui no Canadá, e com a maturidade dos 30 batendo na porta, eu percebo que fiquei tão focada na vergonha, na minha falta de confiança e conhecimento da língua, e eu não fui paciente comigo, em entender que aprender uma nova língua e se mudar para outro país é muito desafiador, e que eu tinha que confiar no processo.
Apesar do trauma, essa primeira entrevista me ajudou a destravar algumas ações muito importantes na construção da minha carreira internacional na moda:
Ao invés de ficar só repetindo “Hi, I'm Mariana, I'm from Brazil and I moved to Canada”, eu iria ser intencional no modo como eu me apresento para as pessoas, e iria falar para todo mundo algo interessante da minha carreira na moda. Quando falo pessoas, quero dizer todo mundo, desde a senhora portuguesa que vendia pastéis de nata no farmers market até as empreendedoras que conhecia em eventos gratuitos da universidade que meu marido estudava.
Iria me dedicar a aprender vocabulário de moda e finalmente começar a aprender inglês de um jeito que impactaria minha carreira. (Falando nisso, essa é a última semana para se inscrever no FASHION VOCAB TALKS).
Decidi também procurar um emprego que tivesse alguma relação com moda. Procurei emprego em lojas de tecido, em lojas de consertos e costura de shopping, e finalmente encontrei uma vaga como 'Textiles Co-worker' na IKEA. A vaga era de vendedora, mas achei que o nome ficaria bonito no LinkedIn por mencionar 'Textiles' e eu teria oportunidade de praticar no dia a dia vocabulário de têxteis.
O que eu percebi foi que foram ações como essa que fizeram impacto na minha carreira, que me conquistaram empregos como designer em marcas canadenses na mesma área que eu trabalhava no Brasil, e não essa primeira entrevista que eu fiz em si.
Imigrante não precisa começar do zero, mas tem o benefício de contar sua história em outro país da forma que quiser.
Seja intencional.
And remember: “The journey is the reward”.