Power dressing é o CLT core dos anos 70?
Minha história de amor e ódio com os terninhos. 💸👞🗞️🧥👜
Aeroporto de Joinville, anos 90, a mini Mariana de 4 anos observava o avião decolar e dava tchau com os olhos marejados 🥹 para a Tia Nana, seu modelo de sucesso, corretora de seguros bem-sucedida que viajava de avião frequentemente a trabalho, usando seus terninhos impecáveis da Le Lis Blanc e sapatos de salto. Tia Nana me falava brincando: "Vou te levar para São Paulo dentro da mala". Eu dizia, "nããão", porque ainda não entendia ironia com essa idade, mas eu tinha esse fetiche de que um dia eu também queria me vestir assim, queria passar toda essa autoridade e ser essa mulher bem-sucedida que ela era.
Eu comecei minha trajetória no mundo corporativo com 17 anos. Logo depois de fazer um curso técnico de moda no Ensino Médio, consegui um emprego como assistente de design têxtil em uma malharia da minha cidade natal. Minha primeira experiência profissional, minha chance de realizar meu sonho e começar a usar os TERNINHOS, certo? ERRADO! Na minha época 👵🏻 de jovem estilista, #CLTcore (ou em inglês 🇬🇧 #OfficeSire #CorpCore) não estava muito em alta. Eu raramente (leia MUITO raramente) montava looks com peças tradicionais de workwear como blazer, terno, calça tipo alfaiataria. Minha professora da faculdade gostava de falar: "Estilista precisa é de roupa confortável e sapato baixo para rodar muito pela fábrica!!!" (lembra Thai Schneider?). Lá na empresa, as mulheres que usavam blazers tradicionais eram da equipe comercial, e a equipe criativa fazia o máximo esforço para se diferenciar dos departamentos de vendas.
E foi aí que o meu conceito de demonstrar autoridade através das minhas roupas começou a mudar. A forma como uma estilista quer passar competência através da sua estética é diferente de uma analista comercial. Mas como chegamos até aqui e por que se vestir apropriadamente para o trabalho pode ter impacto na nossa confiança?
O livro Dress For Success do americano John T. Molloy fez tanto sucesso nos anos 70 que ele decidiu fazer uma versão feminina do livro, chamada The Woman’s Dress for Success Book, oferecendo conselhos sobre como uma mulher deveria se vestir para ser bem-sucedida no mundo corporativo e conseguir promoções. Ele introduziu o conceito de "POWER SUIT" para as mulheres como uma ferramenta para ocupar um espaço no mundo tão masculino dos escritórios.
Quando falamos de vestimentas, a palavra "SUIT" pode ter 2 significados:
um blazer e calça ou um blazer e saia feitos do mesmo material.
🇬🇧 Emily Cooper wore a blue suit. 🇧🇷 Emily Cooper usou um terno azul.
um conjunto de roupas ou uma peça de roupa para ser usada em uma situação específica ou ao realizar uma atividade específica.
🇬🇧 Emily Cooper wore a ski suit. 🇧🇷 Emily Cooper usou um traje de esqui.
nisso, "POWER SUIT" pode ser traduzido para o português como "terno do poder" ou "traje do poder". A segunda opção é uma forma mais holística, considerando que outras peças, além dos tradicionais "blazer e calça", também podem passar autoridade.
Molloy falava que as mulheres não deveriam se vestir como uma secretária, mas também não deveriam se vestir muito sexy, mas também não deveriam se vestir masculinas, mas também não deveriam se vestir muito femininas e usar estampas florais 😮💨 - são tantos "mas" que o Molloy teve que admitir: as mulheres são muito mais julgadas em relação à sua aparência, e o ambiente de trabalho (especialmente nos anos 70) é um espaço de muita desigualdade de gênero, mas que o "POWER DRESSING" tinha como objetivo ajudar mulheres a superarem preconceitos, vestindo-se de maneira que minimize distrações e destaque suas capacidades.
Eu acredito que o livro do Molloy, apesar das problemáticas de desigualdade de gênero, teve um impacto positivo na história das mulheres no mundo corporativo, mas como ele foi escrito há quase 50 anos, alguns de seus conselhos conservadores já estão desatualizados. Pensando nisso, eu conversei com a Amanda Kirsche, fundadora do AK Stylist, uma escola de consultoria de estilo, sobre a evolução do conceito "POWER DRESSING", e como "autoridade" pode ter significados diferentes dependendo da profissão de cada cliente. Por exemplo, o jeito da Anitta de passar autoridade é completamente diferente da Kamala Harris.
A Amanda me falou que o "boom" do uso da alfaiataria pelas empresárias para transmitir autoridade é compreensível, já que peças historicamente masculinas, como blazer e gravata, comunicam seriedade de maneira imediata. Mas, segundo ela, é triste que, muitas vezes, a única forma de as mulheres serem vistas como poderosas no mundo corporativo seja usando roupas historicamente masculinas. Como uma consultora fora da caixa, Amanda defende que outras modelagens podem transmitir a mesma seriedade, sem sacrificar a essência pessoal da cliente.
Ela compartilhou o exemplo da sua cliente Maitê, uma escritora que precisa transmitir profissionalismo e tem um estilo pessoal sensual e glamouroso. Em vez de forçá-la a adotar um visual conservador, Amanda propôs soluções como um blazer cropped, peças estilo alfaiataria em couro ou veludo, e até uma saia lápis dourada. Outra cliente é Morgana Secco (mãe da Alice 🤏), criadora de conteúdo e cursos sobre maternidade, que deseja passar autoridade e proximidade. Como a Morgana não se sente confortável com o estilo alfaiataria tradicional, Amanda optou por tecidos mais estruturados, cortes suaves e cores claras.
Segundo a Amanda, consultoras de estilo trabalham com a complexidade do ser humano, de entender a subjetividade do gosto pessoal, então quando uma cliente envia uma foto de referência de uma influencer ou celebridade, ela tenta entender o porquê de a imagem ter sido selecionada, o que naquela comunicação atraiu o olhar, e não simplesmente olhar para uma única peça de roupa.
E foi aí que eu fiquei me perguntando se eu era mais apaixonada pelos terninhos da Le Lis, ou pela comunicação da minha Tia, pelo empoderamento que ela transmitia ao colocar seu "POWER SUIT", subir no avião, ser independente financeira e geograficamente?
A Madé, criadora do Data, But Make it Fashion, analisou a correlação entre a popularidade do "workwear" e o aumento das ações do S&P500 (índice que mede o desempenho das 500 maiores empresas dos EUA), e perguntou: será que tendências como CLT core estão fazendo a gente querer trabalhar mais?
Eu me pergunto, será que o exemplo de autoridade e profissionalismo da Tia Nana me fez querer trabalhar e viajar mais?
Me conta, quem é sua inspiração de "POWER DRESSING"?