quando foi que eu parei de gostar de costurar?
minhas Barbies e Suzis certamente não aprovaram essa decisão
Eu também passei por aquela fase de fazer roupas para as minhas Barbies e Suzis. Minhas habilidades manuais sempre foram afloradas pela inspiração das mulheres da minha família: por parte de pai, costureiras profissionais; por parte de mãe, multi-talentosas artesãs. Minha vó fazia presentes de Natal, como saídas de praia de crochê, para TODAS as netas.
Eu já brincava com a linha e com a agulha na infância, recolhendo retalhos do ateliê da minha tia, mas foi somente durante o ensino médio, no curso técnico de moda, que eu aprendi a costurar. Quem já fez curso técnico, lembra da primeira aula de costura costurando no papel?
Em um certo momento, eu decidi que não gostava mais de costurar. E o pior é que eu não sei de onde veio isso. Se ver minhas tias costurando teve tanto impacto na decisão da minha carreira, como eu comecei a odiar essa parte essencial de trabalhar com moda? Será que a Mariana adolescente achava que estava glamourizando a profissão de estilista ao falar “aff, odeio costurar!"? 🥹
Não foi hoje que eu comecei a me questionar sobre isso. Em meados de 2022, eu fui até Nova York entrevistar a estilista Layana Aguilar — a trajetória dela é impressionante! Alguns highlights: ela é formada em Moda pela FIT, estagiou no Oscar de La Renta, participou do Project Runway e hoje tem uma escola de costura para crianças! Durante a entrevista, a Layana me disse: “costurar é meu superpoder”. Eu saí da nossa conversa muito pensativa sobre minha relação com a costura.
Hoje, depois de 12 anos trabalhando com moda, eu acho que é ainda mais sexy quem tem conhecimento sobre a construção de produto, quem sabe como fazer e sabe FAZER.
Eu acredito muito no poder das palavras, portanto, este ano eu decidi que vou parar de falar “eu odeio costurar" e, assim, restaurar minha relação com a costura com o objetivo de me tornar uma profissional melhor, contribuir para um futuro da moda mais sustentável e para a valorização de uma profissão tão nobre e essencial da indústria da moda.
No episódio de podcast desta semana, eu conversei com a Luciane Young. Ela mora em Boston e é Bridal Image Consultant — ajuda noivas norte-americanas a encontrarem e ajustarem o vestido de noiva dos sonhos.
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Aprendi muito sobre o mercado de moda nupcial nos Estados Unidos com a Lu. Ela me contou que os norte-americanos não estão acostumados com a exclusividade, mas sim, com a padronização. Diferente do Brasil, é muito raro que um estilista crie um vestido único e exclusivo para uma noiva. Elas têm que escolher um vestido disponível na coleção, em uma numeração existente, e depois ajustar o vestido às suas medidas específicas. Como disse a Lu, ajustar um vestido de noiva significa desconstruí-lo e construí-lo novamente.
A carreira da Lu na moda começou depois de ela ter feito um intercâmbio para os Estados Unidos. Depois de ter trabalhado em estações de esqui em Nova York, ela prolongou o visto e foi passar um tempo em Boston. Chegando lá, ela viu que existiam várias oportunidades para trabalhar como assistente de costureiras em ateliês renomados de vestidos de noiva. Nessa época, a Ásia ainda não tinha a força que tem hoje na exportação, então muitos vestidos eram costurados do zero nos EUA.
Ela aprendeu a arte da costura com costureiras que também eram imigrantes. Imagine um ateliê repleto de costureiras com diversos sotaques e anos de experiência na costura — eu queria muito ter passado um dia com elas, conversando e fazendo perguntas sobre suas trajetórias pessoais e profissionais — com quem aprenderam? Como foi a mudança para outro país? Tiveram o apoio da família quando escolheram essa profissão?
Eu não pude entrevistar as senhoras que ensinaram a Lu, mas tive o prazer de ouvir a trajetória dela — uma mochiler apaixonada por costura, e gravar esse episódio foi ainda mais importante na restauração da minha relação com a costura.
Conversamos também sobre a atual escassez de costureiras na indústria da moda — ela vive recebendo ligações de ateliês de vestidos de noiva em Nova York querendo contratá-la.
Mas agora eu quero ouvir de você: me conta, qual sua relação com a costura?